O BRINCAR E AS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS

O conceito de brincar vai muito além do simples ato de brincar, é um processo permanente de descoberta e de relacionamento da criança com o mundo e está intimamente ligado à necessidade da infância, pois é especialmente nesta fase da vida que a brincadeira é praticada de maneira e plena, onde habilidades como a linguagem, a imitação, a memória, a imaginação, entre outras capacidades físicas e cognitivas, são estimuladas.

Brincando a criança desenvolve os sentidos, aprende a usar os músculos, coordena a visão, obtém domínio sobre o corpo, alivia as tensões, constrói relações, cria vínculo, conhece o outro e se deixa conhecer, faz amigos, aprende a respeitar o direito dos outros e as normas estabelecidas pelo grupo e aprimora seu desenvolvimento biopsicossocial.

Muitos pais acreditam que brincar é perda de tempo. Por isso, acabam preenchendo a agenda da criança com atividades formais, trazendo consequências contraproducentes para o seu desempenho escolar.

Pesquisas mostram que brincar leva a criança a atingir três grandes objetivos, como o prazer, a expressão dos sentimentos e a aprendizagem. A criança que brinca é mais ágil, mais perspicaz, mais interessada e apresenta mais facilidade em aprender.

Portanto, toda criança deve ter momentos, na sua rotina diária, para brincar, acrescenta a fonoaudióloga mestre Mônica Pereira. Ressalta ainda que, os pais que participam das brincadeiras dos filhos têm oportunidade de conhecê-los melhor, aumentar o grau de confiança e o vínculo entre ambos.

Por isso, é importante que os pais estejam atentos, aos brinquedos e brincadeiras que favoreçam o desenvolvimento das habilidades motoras (coordenação grossa e fina), esquema corporal, orientação e estruturação espacial/temporal, lateralidade (dominância lateral) e equilíbrio dos seus filhos, fundamentais para a escrita.

 Deste modo, é recomendável dar diferentes tipos de brinquedos para as crianças experimentarem, pois, cada brinquedo desperta o interesse, a curiosidade e a expressão de sentimentos da criança, de maneira diferente. Vale ressaltar que o importante é o brincar, e não o brinquedo. Portanto, é possível improvisar brinquedos com frutas, sucatas, entre outros objetos.

De acordo com a literatura, o desenvolvimento infantil é individual, mas as crianças passam por vários estágios. Por exemplo, aos 03 a 04 anos, as crianças começam os jogos motores de faz de conta (representação), como brincadeiras de casinha, de escolinha e os jogos motores de movimento. Por volta de 05 a 06 anos surgem os jogos coletivos, de campo ou de mesa, como jogos de tabuleiro, futebol, brincadeiras de roda. Com 07 anos de idade, a criança, está apta a participar e se divertir com todos os tipos de jogos e brincadeiras.

Entre as opções de jogos e brincadeiras disponíveis, relacionamos abaixo uma lista bem simples e divertida que cabem no cotidiano para fazer com a criança em família.

  • jogos como xadrez, dama,  resta um, dominó, jogo da memória, cinco Marias, jogo da velha, pião, pega varetas;
  • pula corda, bambolê, amarelinha, pula elástico, corrida do saco;
  • jogo de cartas como mico, rouba monte;
  • brincadeiras de morto vivo, duro mole, passa anel, telefone sem fio.
  • Leitura e/ou contação de histórias, músicas, cantigas de roda, teatro com fantoches, dança, dramatização, mímica, trava línguas;
  • confecção de objetos, modelagens, colagens, alinhavos, receitas kids;
  • biloquê, peteca, pipa, malabarismo;
  • andar de bicicleta, jogar bola, rolar na grama, brincar na areia.

 É comum nos dias de hoje encontrarmos crianças com dificuldades na coordenação motora, pelo tempo que elas ficam sentadas, com privação de movimentos. Neste contexto, os jogos e brincadeiras motoras são de suma importância para o desenvolvimento, o aprendizado, a autonomia e a identidade da criança.

Crianças com dificuldades motoras e/ou cognitivas podem apresentar inversões de letras e espelhamento, escrita fora da linha, lateralidade indefinida, força exagerada na escrita e no desenho, entre outras. Então, antes de fazer a preensão do lápis para a escrita, que exige coordenação motora fina, a criança necessita exercitar ombro, cotovelo, punho e falanges dos dedos por meio de atividades que estimulem a coordenação motora. Arremessar bolas, martelar, manusear objetos com as duas mãos, modelar com massinha e/ou argila que trabalham a força, tonicidade muscular são atividades lúdicas que trabalham as articulações, força e tonicidade muscular.

A escrita é um fator importante para o desenvolvimento cerebral. Enganam-se quem pensa que ter letra legível é apenas uma questão de treino de caligrafia.  Pois se faz necessário todo um trabalho de psicomotricidade começando pela motricidade ampla (do corpo para o braço) até chegar à motricidade fina (do braço para o movimento dos dedos).

Pesquisas revelam que a prática da escrita cursiva, integra vias motoras no cérebro. Também, em pesquisa feita com universitários, comprovou-se que aqueles que escreviam suas anotações a mão, lembravam-se com mais facilidade.

Deste modo, podemos afirmar que a alfabetização da criança inicia em casa, com os pais, por meio de jogos e brincadeiras. Isso indica que estimular o desenvolvimento cognitivo da criança não precisa esperar pela escola. Por meio das vivências e experiências lúdicas construídas diariamente em seu contexto, a criança vai evoluindo em seu desenvolvimento e em suas capacidades. Isso significa que a saúde física, emocional, intelectual e social da criança depende muito, do ato de brincar.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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FRITZEN, Silvino José. Jogos Dirigidos. Petrópolis: Vozes, 2009.

MATA, Francisco Salvador. Como prevenir as dificuldades na expressão escrita. Porto Alegre, RS: Artmed, 2003.

MIRANDA, Simão de. Faça seu próprio brinquedo. 5. ed. – São Paulo: Papirus, 2008.

OLIVEIRA, Vera Barros de. A compreensão de sistemas simbólicos. In: BOSSA, Nádia e OLIVEIRA, Vera Barros de (Orgs). Avaliação Psicopedagógica da criança de 7 à 11 anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

PAPALIA, Diane E., OLDS, Sally Wedkos e FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

REISSWITZ, Marlise Von. Sobre o desejo de aprender. In.: Folhetim do CAP, ano VI, n.6, Porto Alegre, Set. 2008.

Mônica Pereira de Oliveira

  • Graduada em Fonoaudiologia;
    • Especialista em Audiologia Clínica;
    • Especialista em Psicopedagogia;
    • Especialista em Educação Inclusiva;
    • Mestre em Promoção de Saúde.

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